Com os recentes escândalos que assolam o panorama político nacional, Dona Brasa, 65 anos, que sempre foi telespectadora assídua dos telejornais, se tornou uma fã ardorosa de CPI's, coisa que não sentia desde a década de 50 quando ia assistir ao vivo o Cauby Peixoto cantando "Conceição" (e não a Conceição, a faxineira gostosona) na Rádio Nacional. Sua obsessão pelos, digamos, personagens desse intricado reality show é tanta que ela pregou uma foto do Delcidio Amaral na porta do guarda roupa – ele é bem mais bonito que o Antonio Fagundes, diz a espevitada sexagenária. Sem falar do bonequinho de gesso do ACM Neto que mandou fazer pra enfeitar o jardim que fica em frente à pensão que administra há 35 anos.
A Pensão Brasilha leva seu nome de batismo, Brasília Perpétua das Dores, e fora grafado assim, na placa de seu estabelecimento comercial, incorretamente com lh pelo mesmo pintor – o único da cidade – que fez a faixa do supermercado do seu Neves, onde se lê: somente este mês, saudão de balanço!!!
Na semana passada ocorreu um fato que deixou Dona Brasa, perdoem o trocadilho, cuspindo fogo. Depois de varar a madrugada assistindo a todos os noticiários, de política principalmente, como acontece todas as noites, a velhinha dormiu toda contente sonhando com ela e o senador Delcídio Amaral, os dois numa acareação erótica em plena praça dos três pudores, quer dizer, Três Poderes
Foi quando então viu seu sonho ser abruptamente interrompido por um pesadelo que parecia não ter fim, pior do que todas as CPI's juntas. Sonhou – ou "pesadelou" - que estava sendo atacada por um monstro horrível. O bicho tinha a careca do Marcos Valério, os dentes falhados do Delúbio Soares, o corpo do Roberto Jefferson (antes da lipoaspiração) e, pasmem, o rabo de cavalo da Heloisa Helena. Dona Brasa acordou, então, suada, esbaforida e pensando – Meu, Deus! Será isso algum sinal? – Tomou um copo de água com um lexotan e voltou a dormir, leve como a consciência do deputado José Dirceu.
No outro dia ao acordar e abrir a porta da cozinha, a desagradável surpresa: ladrões pularam o muro e, não podendo arrombar as portas e janelas bem guardadas por trancas cadeados e correntes – Dona Brasa, filha de militares, era o bicho na segurança! – o que fizeram então? Atacaram justamente onde menos se esperava: os fundos da pensão da pobre anciã. E os seus hóspedes ficaram no prejuízo: a capa de chuva do carteiro Juvenal, que ficou escorrendo no varal depois de um dia de entregas debaixo d'água, desapareceu. A bola de voley do Renatinho, office boy do Banco do Brasil também. O jogo de sábado a tarde foi pro brejo. Até a velha bicicleta do Amadeu, frentista do posto BR, os malandros levaram. Fugiram de báique, só pode, - indignou-se Dona Brasa, modernamente.
O fato é que depois daquela fatídica noite, Dona Brasa, coitada, inconsolável e crente em coincidências, coisas do destino, cismou de vez com os telejornais. Nunca mais quis saber de perder suas noites pra assistir as notícias da política nacional. Deixa pra lá, dizia, nada acontece por acaso mesmo. Marmelada, pizza e robalo eu assisto amanhã cedo na cozinha da Ana Maria Braga.
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