Ei, psiu, é com você mesmo que eu estou falando. Você viu o Renan Calheiros por aí? Não?! E o Paulo Maluf? Também não?! Nenhumzinho deles, nem o Joaquim Roriz, o Severino Cavalcante ou aquele outro dos dólares na cueca, tem certeza de que não os viu? Impossível! Se todos eles estão aí na sua frente, bem pertinho de você! Pode prestar atenção, e não é na televisão, no jornal ou na internet. Olhe atentamente ao seu redor e você os verá sorridentes, maliciosos, matreiros, com aquela típica expressão tupiniquim: “eu sou o cara, o espertão, me dei bem”.
Ontem mesmo eu topei com um Renan na rua. O sinal de trânsito estava vermelho, mas ele, claro, como “não é bobo nem nada” (afinal é um legítimo Renan) parou o carro bem em cima da faixa de pedestre pra se adiantar, garantir o seu. Nada de mais. Apenas uma infraçãozinha boba. Tão boba quanto à de um esperto Maluf que me ultrapassou logo em seguida (detalhe: pelo lado direito). O Roriz eu vi hoje pela manhã jogando casca de banana pela janela do ônibus com o mais politicamente indigesto dos argumentos: - Ué, se não tiver lixo no chão daqui a pouco a prefeitura não vai mais precisar contratar garis. (!!!) De onde eu concluo que precisamos urgentemente de mais bandidos e assassinos nas ruas afim de que nossos policiais não morram de fome.
Viu como não é tão difícil assim encontrá-los? As nossas ruas estão cheias deles. Historicamente a nossa cultura, o inconsciente coletivo, enfim, estão tristemente recheados de Renans, Malufs e seus pares. Aqui pra nós, com todo respeito, eu acho que até você, se puxar um pouco pela memória vai se lembrar que já cometeu algumas renanzices na vida. Ou então já viu muita gente aprontar das suas malufices na sua família, no clube, no trabalho. Tudo, claro, camuflado com o adocicado pseudônimo de “jeitinho brasileiro”. Eu sei que é difícil assumir, se revelar assim, mas não vai me dizer que pelo menos em algum momento da vida você nunca foi, e se não foi nunca pensou em cometer, uma rorizada, daquelas bem sorrateiras, espertinhas, mesmo que por uma vezinha só. Hêin? Quer (maus) exemplos? Se você só tirou carteira de habilitação porque um amigo do cunhado do vizinho do seu tio trabalha no Detran? Parabéns, você é um perfeito Renan. Conseguiu aquele cargo bacana na prefeitura, passando na frente de um monte de gente qualificada, só porque sua irmã tem um caso com um vereador? Viva! Você é um típico Roriz. Pagou uma cervejinha pro guarda rodoviário pra ele não te multar só porque o documento do seu carro tá vencido? Uma salva de palmas! Você (e o guarda que aceitou o agrado) são dois grandissíssimos Malufs. A última: você não estudou pra prova da faculdade e pegou um atestado falso com aquele médico amicíssimo da família só pra poder ficar em casa o dia todo revisando a matéria? Mais aplausos! Você e o sem vergonha do doutor formam um belo par de Lalaus!
É triste, mas é verdade. Como se pode perceber eles estão no meio de nós. E ainda há os que se sentem “revoltados”, e que, dotados de uma indignação de dar inveja a uma lesma, reclamam do governo e de toda a corrupção que toma conta de nosso noticiário. Há um bom tempo não se mobilizam, promovem passeatas ou grandes manifestações. Talvez pelo fato da mamãe Globo ainda não os ter “incentivado” como pareceu ter ocorrido com a minissérie “Anos Rebeldes” em 1992, ano do impeachment do ex-presidente (e hoje, pasmem, senador da República) Collor de Mello. Não fazem panelaço como nossos hermanos argentinos, definitivamente nossos fregueses no futebol (assunto, aliás, bem mais interessante do que esse negócio chato de política) e seguem impávidos e colossais, loucos pra saber quem vai estar na seleção de Dunga na Copa do Mundo ou então quem vai ser escola de samba campeã de 2008.
Por isso, meus amigos, fiquemos bastante atentos da próxima vez que chamarmos de idiotas aqueles que acham carteiras recheadas de dinheiro e as devolvem aos seus donos. Ou então quando nos acharmos espertos o bastante a ponto de fazermos campanha fervorosa pra um candidato nitidamente corrupto, só porque ele trouxe uma banda legal pra tocar na nossa festa da formatura.
Caso contrário correremos o sério risco de, ao olhar no espelho todos os dias pela manhã, depararmos não com nossa face, mas com a cara lavada do Renan, do Maluf, do Roriz, do Severino Cavalcante, do Lalau...
2 comentários:
Queria eu ter esse talento para unir tão bem humor e senso crítico.
Penso, também, que está faltando no blog suas outras crônicas igualmente maravilhosas e sagazes.
Pode nos presentear que nós aceitamos. Eu, particularmente, preciso aprender ainda mais com você e com o seu incrível senso de humor.
Ler você sempre me traz alegria e motivos para rever ou reler as entrelinhas da vida.
bjs Cynara
Olá amigo Jan..
Há algum tempo lendo seu textos. Definitivamente torna-se leituras obrigatórias.
Escrever, depois de algumas técnicas e práticas é muito simples. Aliás perigosamente simples, uma vez que dominada a escrita vc a usa como quer. Por vezes, diria nosso Verisismo, nos tornamos "gigolôs das palavras". Mas escrever o que se acredita isso é ser grande, é ser fundamental.
Espero mesmo lhe encontrar em próximas crônicas desse nosso dia-a-dia. Cotidiano em que a maioria apenas vive-se; Outros olha-o e dá de ombros, e para outros ainda, faz-se alguma coisa.
Vc está inscrito entre os que fazem.
Meus sinceros desejos de sucesso e inspiração; que o papel a sua frente não fique branco jamais, mas seja cortado por suas letras despidas de falsos pudores, mas sempre elegantes.
Ivan Albert
P.S. estará na minha página do orkut um link a essa. Posso?
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