Você já percebeu como é grande o número de músicas do passado que volta e meia retornam às paradas do sucesso? Pode reparar, sejam em sua versão original, sejam regravadas (ou estragadas) por forrozeiros, funkeiros ou pagodeiros, aqui e ali tem sempre alguém dando uma cara nova a um clássico do cancioneiro popular.
Mas nesse terreno oportunista dasregravações de antigos sucessos nada se compara a simpática combinação "voz-violão" e uma platéia repleta de quarentões saudosistas. E o mais interessante é que, muitas vezes, esse formato vem atraindo não só os titios e as titias, mas também as novas gerações que curtem essas músicas com tamanha intensidade como se tivessem realmente vivido esse tempo.
Deve ser gratificante para um cara como o Zé Ramalho, por exemplo, ver "Avohai" do ano de 1977 sendo cantada por uma galera que, como eu, só tinha 5 anos quando essa música foi gravada. É, como diziam os hippies, "a maior viajem, bicho!".
Agora pense bastante e reflita: qual vai ser a "maior viajem, bicho!", dos coroas do futuro? De quais músicas nossos filhos sentirão saudade quando ficarem como nós, carecas e com uma barriguinha mantida a custo de muita cerveja gelada? Que melodias assoviarão quando, no final de um estafante dia de trabalho, finalmente voltarem pra suas casas? Que títulos farão parte daquelas clássicas coletâneas "Flash Back Anos não-sei-quanto" em seus mp3, ipod's ou o que mais for inventado daqui a trinta e tantos anos?
- "Tô ficando atoladinha"? Que coisa mais careta, pai!, dirão nossos netos.
E o que nossos filhos dirão a eles? O que todos os pais dizem a seus filhos, claro.
- Essa meninada de hoje não sabe o que é bom.
E aí quando chegar o final de semana, enquanto a molecada sair pra balada (que certamente terá outro nome) nossos filhos e seus respectivos parceiros, parceiras ou o que mais a modernidade permitir, irão praquele tradicional showzinho básico de sábado a noite onde só rola o tão benquisto "sonzinho ambiente". E, entre uma porção de batata frita e aquela não menos tradicional cervejinha gelada eles certamente exclamarão:
- Nossa! Parece que foi ontem. Se lembra, amor, como a gente se esbaldava ao som de Wanessa Camargo, Felipe Dylon ... Bons tempos aqueles!
- E o Mc Serginho cantando (!?): vai lacraia, vai lacraia! Aquilo que era música e não isso que se ouve hoje em dia.
- Amor, chama o garçom que eu vou pedir uma música pra gente.
O garçom se aproxima, a senhora pega a caneta da bolsa e escreve num guardanapo o nome da canção que embalou a juventude do casal, o início do namoro na micareta de 2004 (nossa, parece que foi ontem), o churrasquinho com pagode que rolava o domingo inteiro, bons tempos, bons tempos...ela quase chora, fita os olhos do maridão, também emocionado, quando vê o cantor fazendo sinal de positivo pra eles e, finalmente atendendo o bendito pedido. Outros casais quarentões, também presentes, não resistem e, balançando lentamente a cabeça pra lá e pra cá, se entreolham e acompanham a doce melodia (uma versão bossa nova pra "Festa no apê" do Latino) , reforçando o coro principalmente naquele verso que diz "..no meu quarto tem orgia". Nostalgia pura.
...sei não, mas do jeito que a coisa vai, eu tenho a leve impressão de que no futuro o passado não vai ser tão interessante assim como é hoje no presente.
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